ERA UMA VEZ NA AMÉRICA LATINA #22
Crítica: Os Delinquentes, representante argentino no Oscar 2024/ Blanquita na Netflix/ A Retomada da Sessão Vitrine Petrobras
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CRÍTICA: OS DELINQUENTES (2023)
Os dias para Morán (Daniel Elias) são todos iguais. Ele acorda, se veste, caminha até uma padaria, toma café da manhã e segue para o Banco Social Cooperativo, no centro de Buenos Aires, onde trabalha como tesoureiro. Mas tudo está prestes a mudar, já que Morán planeja roubar o banco.
O plano consiste em roubar 650 mil dólares, deixar a quantia escondida com outro colega bancário, Román (Esteban Bigliardi), assumir a culpa pelo crime, cumprir pena e depois usufruir de sua parte do dinheiro bem longe da vida que levava antes. Acontece que o sujeito não rouba para ser rico, ele rouba para poder deixar de trabalhar. Por isso, a quantia levada dos cofres corresponde à soma dos salários que ele e seu cúmplice involuntário receberiam até a aposentadoria caso continuassem no mesmo emprego. De acordo com os cálculos de Morán, mais vale passar três anos na cadeia do que outros 20 anos aprisionado na rotina.
Escrito e dirigido por Rodrigo Moreno (“O Guardião”, 2006), um dos integrantes do chamado “novo cinema argentino”, Os Delinquentes (Los Delincuentes) se confunde, a princípio, com um clássico filme de assalto. E de fato ele nasce como uma releitura moderna de Apenas Un Delincuente (1949), de Hugo Fregones. Há, inclusive, características típicas dos filmes de assalto da época, como o passeio noir da câmera pela cidade, ambientando os momentos e os lugares do cotidiano do protagonista anti-herói. Aos poucos, porém, o longa se revela mais existencialista do que sua inspiração. Assim, o assalto ao banco deixa de ser o centro da trama para funcionar como elemento catalisador das jornadas de dois homens apegados à possibilidade de ser donos do próprio tempo.
São estabelecidos, visual e narrativamente, paralelos entre a prisão física experienciada por Morán após o roubo e o tempo em que Román amarga uma prisão burocrática no trabalho e sentimental em seu relacionamento monótono. Ambos à espera do momento em que poderão encontrar a felicidade e viver do dinheiro roubado. Ambos pressionados, numa jocosidade de Moreno, por dois diferentes personagens do mesmo Germán da Silva.
Estruturado em duas partes, Os Delinquentes primeiro foca nas consequências do crime para os protagonistas e seus entornos e depois nas contradições e ironias de seus destinos. Então, entre a densidade da atmosfera urbana portenha e a tranquilidade das serras de Córdoba, flertando com vários gêneros cinematográficos (romance, drama, policial, farsa) e tendo “Adonde Está la Libertad”, clássico Pappo's Blues de 1971, como destaque na trilha sonora, o filme propõe reflexões sobre valor do tempo livre e o significado do trabalho.
Reflexões que nunca soam afetadas ou ingênuas, já que paira por todo o filme um tom tragicômico que embala também uma crítica de Moreno à miserabilidade e ao escapismo com que seu bancário libertário decide tentar burlar o sistema.
Durante três horas (que definitivamente não demoram tanto a passar), Os Delinquentes elabora com muita essência argentina e imprevisibilidade uma história que trata de expectativas e realidades e tangencia muitas das características de nosso tempo.
Os Delinquentes é o filme representante da Argentina na disputa por uma indicação ao Oscar 2024 de Melhor Filme Internacional
Em cartaz nos cinemas brasileiros desde 26 de outubro. Em breve no catálogo da MUBI.
PARA ASSISTIR EM CASA
NETFLIX
Blanquita
Inspirado no caso Spiniak, que tomou os noticiários chilenos no fim de 2003, o filme tem como personagem-título uma garota que viveu muitos anos na rua, passou por diversos abrigos para menores e, apoiada pelo padre responsável por um desses abrigos, se transformou em principal testemunha de um escândalo envolvendo abusos sexuais de crianças, políticos, empresários e drogas.
Há uma história para ser denunciada, mas essa não é a história de Blanquita. Por que, então, a jovem decide assumir para si e sustentar por vários meses, diante de juízes, imprensa e opinião pública, a história de que era uma sobrevivente de uma rede de pedofilia?
Blanquita representou o Chile no Oscar 2023.
STAR+
O Faz Nada
Com Luis Brandoni no papel principal, a minissérie argentina O Faz Nada (Nada) acompanha Manuel Tamayo Prats, um octogenário rico e acomodado que de uma hora para a outra precisa começar a se virar sem sua governanta faz-tudo e com o findar do dinheiro.
Robert De Niro participa da produção como uma espécie de narrador, um amigo de Prats que vive em Nova York e descreve o argentino para o espectador.
SESC DIGITAL
Las Insoladas
Do mesmo diretor do famoso longa argentino Medianeras, Las Insoladas se passa durante uma tarde abafada de verão, num terraço de um prédio em Buenos Aires onde seis amigas companheiras de aulas de salsa tomam sol e conversam sobre a vida e sobre um sonho em comum: poder passar férias nas praias cubanas.
SESSÃO VITRINE PETROBRAS
A Petrobras anunciou durante a coletiva de imprensa da 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo que voltará a patrocinar a Sessão Vitrine, projeto da distribuidora Vitrine Filmes que busca potencializar a formação de público distribuindo filmes brasileiros e coproduções latino-americanas em salas de cinema comerciais com ingressos a preços reduzidos.
A Sessão Vitrine foi criada em 2011 e suspensa em 2013 por falta de patrocínios. Retornou em 2017 com o apoio da Petrobras e teve a parceria cancelada em 2019, quando o governo federal decidiu que o cinema não entraria na lista de patrocínios da companhia.
Agora o projeto, responsável pelo lançamento de títulos importantes como “Divinas Divas”, “Temporada”, “A Noite do Fogo” e “Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar” volta a se chamar Sessão Vitrine Petrobras e a lançar uma vez ao mês, a partir de novembro e em cinemas parceiros de mais de 20 cidades brasileiras, filmes com entradas barateadas.
VALE LER: Importante difusor do cinema nacional, 'Sessão Vitrine' perde apoio da Petrobras
Conheça a Sessão Vitrine
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