ERA UMA VEZ NA AMÉRICA LATINA #5
Conheça os 14 filmes latino-americanos que concorrem a uma indicação ao Oscar 2022 de Melhor Filme Internacional
Terminou em primeiro de novembro o prazo para que os países interessados em disputar uma indicação ao Oscar 2022 de Melhor Filme Internacional determinassem seus representantes. Ao todo, 14 países latino-americanos estão na competição. Desses, apenas cinco escolheram filmes dirigidos ou codirigidos por mulheres.
Como em todos os anos, entre ficções e documentários, os filmes selecionados traçam um amplo panorama do que tem se destacado nos cinemas da região. Há, por exemplo, a abordagem de Tatiana Huezo sobre a violência de gênero na serra de Guerrero, no México; o retrato de La Paz a partir da perspectiva dos trabalhadores na obra do boliviano Kiro Russo; Aly Muritiba e sua história de amor em tempos de ódio; e até a trágica ironia de o representante panamenho ter acabado atravessado pela violência que pretendia denunciar.
Uma lista reduzida de 15 finalistas será anunciada em 21 de dezembro, e os cinco indicados finais serão divulgados em 8 de fevereiro, junto com os indicados das demais categorias. A cerimônia do Oscar acontece em 27 de março.
Conheça, a seguir, um pouco mais sobre cada um dos filmes latino-americanos selecionados:
Argentina - El Prófugo (Natalia Meta)
De Natalia Meta, mesma diretora do policial Muerte en Buenos Aires (disponível no Prime Vídeo), El Prófugo foi escolhido como representante argentino na disputa por uma indicação ao Oscar 2022 de Melhor Filme Internacional.
Protagonizado por Erica Rivas (Relatos Selvagens, 2014), o filme, um thriller psicológico, gira em torno de Inés, uma cantora lírica que depois de passar por um episódio traumático durante uma viagem de férias com o marido começa a lidar com pesadelos angustiantes e experiências estranhas.
Curiosamente, para o Oscar 2021 a Argentina escolheu como representante outro filme protagonizado por Rivas: Los Sonámbulos, de Paula Hernández (também disponível no Prime Video)
Sem previsão de estreia no Brasil.
Bolívia - El Gran Movimiento (Kiro Russo)
El Gran Movimiento, dirigido por Kiro Russo, é a escolha da Associação de Cineastas da Bolívia (Asocine-Bolivia) para representante do país no Oscar 2022.
De acordo com o júri, o filme acabou selecionado por ser uma obra que “cativa por sua originalidade e sua edição audaz” , além de oferecer " um novo olhar sobre a cidade de La Paz, várias vezes retratada no cinema boliviano”.
A Asocine também definiu o longa como "uma elegia sinfônica ao trabalhador e aos últimos da sociedade, uma observação de La Paz, sede do Governo e do Parlamento bolivianos, a partir do ponto de vista de seus próprios habitantes”. Em EFE.
Russo já havia representado a Bolívia no Oscar 2018 com o filme Viejo Calavera, que nunca chegou a estrear comercialmente no Brasil.
Sem previsão de estreia no Brasil.
Brasil - Deserto Particular (Aly Muritiba)
Tendo feito sua estreia brasileira na programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Deserto Particular, representante do Brasil no Oscar 2022, conta a história de Daniel (Antonio Saboia), um policial que acaba afastado do trabalho por cometer um erro. Ele então sai de Curitiba rumo ao sertão baiano para encontrar Sara, a mulher com quem se relaciona por aplicativo.
“Deserto Particular é um filme de encontros. Desde 2016, com o golpe que tirou do poder uma presidenta democraticamente eleita, minha geração, formada depois da Ditadura Militar, enfrenta o momento mais dramático de sua existência. O país afundou numa espiral de ódio que culminou com a eleição de um fascista como presidente. Depois da eleição de Jair Bolsonaro, todas as minorias, mulheres, indígenas, a comunidade LGBTQIA+, negros, entre outros, passaram a ser sistematicamente perseguidas, e o país se dividiu entre o sul conservador e o norte e nordeste progressista. Essa época de ódio me motivou quando decidi sobre o que seria meu próximo filme. Faria uma obra sobre encontros. Nesse momento de ódio, resolvi fazer um filme sobre o amor”, explica o diretor Aly Muritiba.
O filme estreia comercialmente nos cinemas em 25 de novembro.
Atualização em 14/12/22: Disponível na HBO Max
Chile - Blanco en Blanco (Théo Court)
Dirigido por Théo Court e protagonizado por Alfredo Castro, Blanco en Blanco, candidato chileno a uma indicação ao Oscar 2022, aborda o genocídio do povo Selk’nam.
Ambientado no início do século XX, o filme acompanha o fotógrafo Pedro, que viaja até o extremo sul do Chile para fotografar o casamento de um poderoso latifundiário. Uma vez na região, porém, ele começa a registrar os ataques dos exploradores de terras contra as comunidades originárias.
Sem previsão de estreia no Brasil.
Colômbia - Memoria (Apichatpong Weerasethakul)
Escrito e dirigido pelo tailândes Apichatpong Weerasethakul e estrelado pela britânica Tilda Swinton, Memoria talvez seja o filme de maior apelo midiático desta lista - o que diz muito sobre como a imprensa, de modo geral, filtra a atenção que dá ao cinema latino-americano.
Na trama, Swinton é Jessica, uma cultivadora de orquídeas escocesa que vai visitar a irmã doente em Bogotá. Durante sua estadia, ela faz amizade com uma arqueóloga francesa, responsável por monitorar a construção de um túnel, e com um jovem músico. Os barulhos da obra do túnel interrompem seu sono por dias.
O filme passou pela programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e está disponível no catálogo da MUBI.
Costa Rica - Clara Sola (Nathalie Álvarez Mesén)
Escolhido para representar a Costa Rica no Oscar 2022, Clara Sola marca em grande estilo a estreia de Nathalie Álvarez Mesén como diretora de longas-metragens.
O filme, grande vencedor da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, tem como protagonista uma mulher introvertida de 40 anos, moradora de um vilarejo remoto da Costa Rica, que começa a experimentar um despertar sexual e místico que a libertará das convenções sociais e religiosas.
Com distribuição brasileira pela Imovision, Clara Sola ainda não tem data marcada para chegar aos cinemas.
Atualização em 14/12/2022: Disponível no Reserva Imovision
Equador - Sumergible (Alfredo León León)
A Academia de Cine de Ecuador anunciou Sumergible como representante do país na pré-seleção do Oscar 2022. O filme, dirigido por Alfredo León León, narra a história de um submarino que está transportando drogas quando sofre uma falha mecânica em alto-mar, colocando a tripulação em perigo. Isolados, os personagens devem encontrar uma forma para sobreviver e ainda conseguir fazer chegar a carga ao seu destino. Essa situação de tensão revelará o melhor e o pior de cada um dos quatro tripulantes.
“O maior desafio do filme era como contar uma história contida, com poucos personagens, em uma só locação, e fazer com que esse lugar, localizado a 2.800 metros acima do nível do mar, em Quito (capital do Equador), se parecesse a um submarino navegando em alto mar”, explica o diretor.
“As cinematografias como as de Hollywood fazem isso há muito tempo em grandes estúdios, mas para uma cinematografia como a equatoriana é um desafio. Filmar em locações reais não era possível, então não havia outra opção além de construir um espaço artificial”, completa León. Entrevista com o diretor em El Comercio
Atualização em 14/12/22: Disponível para aluguel nas operadoras de TV.
México - Noche de Fuego (Tatiana Huezo)
Crítica do filme aqui.
Em 2018, Tatiana Huezo já havia representado o México no Oscar com o documentário Tempestad, sobre duas mulheres que sofrem as consequências do tráfico humano no país. Agora, estreando na ficção, a cineasta volta a tratar da violência de seu país sob a perspectivas das mulheres.
Em A Noite do Fogo, três amigas que vivem na serra de Guerrero, região mais pobre de um dos mais violentos estados mexicanos, crescem numa comunidade dominada pelo poder dos cartéis. Ali, nas montanhas, elas aprendem com as mães sobre como tentar sobreviver.
Atualização em 14/12/22: Disponível na Netflix
Panamá - Plaza Catedral (Abner Benaim)
Alicia (Ilse Salas) tinha uma “vida perfeita” até seu filho de seis anos morrer em um acidente. Deprimida, ela é confrontada pela realidade de Chief, um menino de rua de 13 anos que ganha a vida cuidando de carros estacionados e um dia aparece em sua porta baleado e precisando de ajuda.
Por uma tremenda e irônica infelicidade do destino, Fernando Xavier De Casta, intérprete de Chief, foi assassinado num tiroteio e não chegou a ver o resultado final de Plaza Catedral.
Sem previsão de estreia comercial no Brasil.
Paraguai - Apenas el Sol (Arami Ullón)
Através de registros feitos em um gravador de fitas cassete, Sobode Chiqueño revira as memórias de seu povo, os Ayoreo, no Chaco paraguaio, para tentar compreender o processo de evangelização a que foram submetidos.
Apenas El Sol é o segundo longa-metragem da cineasta Arami Ullós selecionado para representar o Paraguai no Oscar. Seu primeiro filme, El Tiempo Nublado, também um documentário, foi o primeiro longa escolhido como candidato do país ao Oscar de Melhor Filme Internacional na história do cinema paraguaio, em 2016 - antes disso não havia no Paraguai uma instituição que pudesse oficializar representantes para enviá-los à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas estadunidense. Em La Nación.
Sem data de estreia comercial no Brasil, o filme esteve presente na programação da edição 2021 do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba e recebeu menção honrosa na Mostra Outros Olhares.
Peru - Manco Cápac (Henry Vallejo Torres)
Premiado em 2020 nas categorias Melhor Filme Peruano, Melhor Ator e Melhor Roteiro pela APRECI (Associação Peruana de Imprensa Cinematográfica) e considerado como um “milagre fílmico" pela crítica do jornal El Comercio, o longa peruano Manco Cápac conta a história de Elisbán (Jesús Luque), um jovem que chega tarde à cidade de Puno para encontrar-se com um amigo, com quem deveria trabalhar. Sem dinheiro e sem lugar para ficar, ele passa a sobreviver fazendo bicos, perambulando cada vez mais solitário.
Sem previsão de estreia no Brasil.
República Dominicana - La Fiera y la Bestia (Laura Amelia Guzmán e Israel Cárdenas)
La Fiera y la Bestia tem Vera como protagonista, uma atriz que perdeu fama ao longo dos anos e que chega à República Dominicana para reencontrar seu círculo social da década de 1970 e rodar um último filme. Geraldine Chaplin, intérprete de Vera, é filha de Charles Chaplin.
Sem previsão de estreia no Brasil.
Uruguai - La Teoría de los Vidrios Rotos (Diego Fernández)
Vencedor dos prêmios de Melhor Filme e Melhor Filme Júri Popular na mostra Longas-metragens Estrangeiros do Festival de Gramado deste ano, La Teoría de los Vidrios Rotos é coproduzido pela gaúcha Okna Produções e se tornou um dos cinco filmes uruguaios mais vistos no Uruguai.
O longa, que combina comédia e policial, conta a história de Claudio Tapia, empregado de uma companhia de seguros que é designado como responsável da empresa em uma longínqua e pequena cidade. Após sua chegada, vários carros começam a aparecer incendiados durante a noite sem motivo algum. Então, enquanto administra uma crise em seu casamento, Claudio deverá resolver o mistério para manter o emprego.
Atualização em 14/12/22: O filme estreou nos cinemas brasileiros em agosto e ainda não está disponível nas plataformas digitais.
Venezuela - Un Destello Al Interior (Andrés e Luis Rodríguez)
Dirigido pelos irmãos Andrés e Luis Rodríguez, Un Destello Al Interior foi selecionado como representante da Venezuela no Oscar 2022 depois de, no ano passado, ter conquistado 11 prêmios no Festival de Cine Venezolano.
De acordo com um comunicado da Asociación Nacional de Autores Cinematográficos (ANAC), o filme chama atenção pelo “risco criativo e o compromisso autoral que assumem os diretores”.
Na trama, Silvia (Jericó Montilla) é uma jovem com uma doença terminal que enfrenta sozinha a responsabilidade de cuidar de sua filha Sara (Sol Vásquez).
Sem previsão de estreia no Brasil.