ERA UMA VEZ NA AMÉRICA LATINA #27
La Memoria Infinita indicado ao Oscar/ O Mal Que Nos Habita, Bizarros Peixes das Fossas Abissais e Los Colonos nos cinemas/ Sideral, um curta brasileiro de ficção científica/ Sundance 2024
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LA MEMORIA INFINITA INDICADO AO OSCAR
O longa chileno La Memoria Infinita, de Maite Alberdi, foi anunciado em 23 de janeiro como um dos indicados ao Oscar 2024 de Melhor Documentário. Alberdi já havia conseguido ser indicada na mesma categoria em 2021, com o surpreendente El Agente Topo.
Desta vez, a diretora chega à premiação da Academia de Hollywood com uma bonita história de amor, um registro bastante sensível e tocante sobre como o casal Augusto Góngora e Paulina Urrutia, unidos há mais de 20 anos, lidou com o diagnóstico de Alzheimer recebido por Góngora em 2014.
Ela, atriz e ex-Ministra do Conselho Nacional da Cultura e das Artes do Chile. Ele, escritor e jornalista cultural, ativo na cobertura de oposição à ditadura Pinochet e depois na preservação da memória daqueles tempos. Ambos protagonistas de uma história de amor, cuidado, cumplicidade e parceria única, mas que toca em temas universais. Uma história contada a partir de registros do passado do casal que se misturam a momentos cotidianos mais recentes e até mesmo a gravações caseiras do período da pandemia - o período mais desafiador para a saúde de Augusto.
Ao revisitar essas memórias pessoais, Alberdi adentra a intimidade cotidiana de uma relação que com o passar do tempo precisou se adaptar ao avanço do Mal de Alzheimer. É incerto o território da memória, e justamente por isso o desvanecer da memória de Augusto, um homem que dedicou sua vida às memórias de seu país, provoca uma reflexão também sobre memória política, histórica e coletiva.
Sempre respeitoso acerca dos limites da exposição das dificuldades e angústias enfrentadas por Paulina e Augusto no dia a dia, o filme emociona ao permitir que o afeto e a resiliência (especialmente de Paulina, uma grande mulher) se sobressaiam frente a um processo de perda de identidade que é invariavelmente cruel e doloroso.
Augusto Góngora faleceu em maio de 2023, aos 71 anos, e não chegou a ver o filme finalizado. Ele, sua terna e admirável história de amor e seu combativo trabalho ficam agora eternizados no cinema.
*Outro filme chileno indicado ao Oscar 2024 é El Conde, de Pablo Larraín, na categoria de Melhor Fotografia.
La Memoria Infinita está disponível no Paramount+ Brasil
Na edição #20: “LA MEMORIA INFINITA SUPERA BARBIE EM SUA ESTREIA”
NOS CINEMAS
Los Colonos
Em Los Colonos, seu primeiro longa, Felipe Gálvez revisita a história do genocídio do povo Selknam, na Terra do Fogo, no extremo sul da América do Sul.
Ambientado em 1901, o filme, um faroeste, acompanha três homens contratados por um rico proprietário de terras para abrir caminho para suas ovelhas até o Atlântico. Entre eles está um tenente inglês, um mercenário estadunidense e o guia Segundo (Camilo Arancibia), um chileno mestiço que se torna cúmplice involuntário do extermínio indígena.
Estreou em 01 de fevereiro em Porto Alegre, Recife e Brasília. Deve estrear em breve em São Paulo e Rio de Janeiro.
Bizarros Peixes das Fossas Abissais
Auxiliada por uma uma tartaruga com transtornos obsessivos-compulsivos e uma nuvem com incontinência pluviométrica, uma mulher com superpoderes um tanto quanto inusitados se aventura numa jornada heroica até as profundezas do oceano em busca de uma disputada planta medicinal.
Essa é a premissa do brasileiro Bizarros Peixes das Fossas Abissais, primeiro longa-metragem de Marão, premiado diretor de curtas de animação. Um filme propositalmente estranho, que se vale da jornada improvável de seus personagens ainda mais improváveis para experimentar situações de humor nonsense e exercícios de animação.
O filme conta com vozes originais de Natália Lage, Rodrigo Santoro e Guilherme Briggs. Estreou em 25 de janeiro pelo projeto Sessão Vitrine Petrobras, com ingressos custando até R$20.
O Mal Que Nos Habita (Cuando Acecha la Maldad)
Um dos mais populares filmes de terror de 2023, o argentino Cuando Acecha La Maldad, de Demián Rugna, estreou nos cinemas brasileiros em 1º de fevereiro com o título O Mal Que Nos Habita.
Na trama, os irmãos Pedro (Ezequiel Rodríguez) e Jaime (Demián Salomón) descobrem um homem possuído e tentam alertar as pessoas de seu povoado sobre o mal que se aproxima, desencadeando assim uma onda de loucura e violência.
“Há no filme algumas coisas fortes, é como pegar você pela mão e te afundar cada vez mais na escuridão, em um drama e em uma tragédia que atravessa a todos. É como uma viagem ao inferno”, confessa Rugna ao site El Universal.
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Solteira, Casada, Viúva, Divorciada
Depois de uma tragédia, quatro amigas de infância que não se viam há muito tempo decidem viajar juntas e escapar dos problemas cotidianos.
Dirigido por Ani Alva Helfer, a comédia peruana “Solteira, Casada, Viúva e Divorciada” se desenvolve como filme de estrada e reúne protagonistas que estão prestes a descobrir em conjunto como superar crises de idade, profissionais, sentimentais e familiares.
Levando mais de um milhão de espectadores aos cinemas de seu país, o filme foi o único nacional a entrar no top 10 de maiores bilheterias do Peru em 2023.
A Ilha Alienígena
Na década de 1980, durante os anos da ditadura Pinochet, espalharam-se rumores de que uma Ilha no sul do Chile abrigava uma comunidade alienígena com poderes de cura. Os seres extraterrestres da ilha apelidada de Friendship (Ilha da Amizade) supostamente se comunicavam com ufólogos via sinais de rádio, mas apenas um homem afirmava já ter visitado o local e estado em contato com os tais aliens: Ernesto de la Fuente.
No documentário A Ilha Alienígena, Cristóbal Valenzuela Berríos se vale de elementos de ficção científica para investigar os rumores que tomaram conta do imaginário popular chileno em plena ditadura militar e perduram até hoje.
Família
Família, primeiro filme em espanhol do diretor colombiano-mexicano Rodrigo García (filho do escritor Gabriel García Márquez), se desenrola durante um almoço de domingo, enquanto uma família discute o que fazer sobre o futuro do olival que possuem. Aos poucos, a convivência traz à tona nuances das dinâmicas familiares vividas pelos personagens.
Ninguém Precisa Acreditar Em Mim
De Fernando Frías de la Parra, mesmo diretor de Ya No Estoy Aquí (2019), Ninguém Precisa Acreditar Em Mim é uma tragicomédia adaptada da obra homônima de Juan Pablo Villalobos. Na trama, Juan (Darío Yazbek Bernal), um jovem escritor mexicano meio frustrado, recebe uma bolsa para fazer um doutorado de literatura em Barcelona mas acaba envolvido com uma rede criminosa que o inspira a escrever a novela que sempre desejou.
Norma
Norma (Mercedes Morán, também co-roteirista do filme) é uma mulher de classe média que viveu muitos anos acomodada num casamento monótono e numa rotina estável. Quando sua empregada doméstica decide se demitir, porém, o dia a dia deixa de ser suportável. Agora pressionada a lidar com preocupações que até então nunca estiveram sob sua responsabilidade, Norma foge do cotidiano e das novas obrigações para embarcar numa jornada de autoconhecimento e superar uma crise de meia-idade.
CANAL BRASIL
Sideral
A protagonista do curta-metragem brasileiro Sideral, Marcela (Priscilla Vilela), é casada, mãe, trabalha como faxineira e está cansada. Ela vive com o marido e os dois filhos em Natal, Rio Grande do Norte, perto do centro espacial onde o primeiro lançamento de um foguete brasileiro está prestes a acontecer. O evento histórico mudará drasticamente a vida de toda essa família.
Com direção de Carlos Segundo e equipe e elenco de profissionais potiguares, Sideral é uma ficção científica sobre as cargas mentais que mulheres mães de família costumam carregar sozinhas.
Disponível na programação do Canal Brasil e no YouTube.
NOTÍCIAS
SUNDANCE 2024
Aconteceu entre 18 e 28 de janeiro o Festival de Sundance, maior festival de cinema independente dos Estados Unidos. Destaque para o longa Sujo (México/EUA/França), dirigido por Astrid Rondero e Fernanda Valadez (Sin Señas Particulares, 2020 - Disponível no Prime Video) e vencedor do Grande Prêmio do Júri na categoria drama. Nele conhecemos Sujo (Juan Jesús Varela), um menino de quatro anos que está vivendo à própria sorte depois do assassinato do pai, membro de uma organização criminosa.
Também integraram a competição internacional o longa brasileiro Malu, de Pedro Freire, e Reinas, da peruana Klaudia Reynickee, um drama familiar sobre imigração.
Entre os documentários internacionais competiu Igualada (Colômbia/EUA/México), de Juan Mejía Botero, um registro sobre a trajetória da atual vice-presidenta colombiana Francia Márquez, desde seus dias como ativista até a campanha presidencial.
MÉXICO NO OSCAR
Embora não tenha conseguido chegar à lista final de indicados ao Oscar 2024, o México avançou até as shortlists da premiação com dois filmes: o curta de animação Humo, de Rita Basulto, e o longa Tótem, de Lila Avilés
Em Humo, animação realizada com a técnica de stop motion e bonecos feitos com papel e carvão, Basulto narra o trágico destino de um menino que vive num campo de concentração durante o Holocausto.
Tótem, pré-selecionado na categoria de Melhor Filme Internacional, também tem uma protagonista criança. Trata-se de Sol (Naíma Sentíes), uma garota de sete anos que ao passar um dia na casa do avô começa a perceber melhor como se dão as dinâmicas familiares ao seu redor. Previsto para estrear no dia 1º de março, na Netflix.
SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL PARA O CINEMA ARGENTINO
Um documento publicado pelo coletivo Cine Argentino Unido contra a “Ley Ómnibus”, proposta do Governo Milei que pretende reduzir o financiamento do Instituto Nacional de Cine y Artes Audiovisuales (INCAA), foi assinado por mais de 300 nomes do cinema mundial. Entre eles: Alejandro González Iñárritu, Pedro Almodóvar, Aki Kaurismäki, Juan Antonio Bayona, Isabel Coixet e Justine Triet.
Trata-se de um manifesto que busca apoio da comunidade internacional para fazer frente às ameaças do governo de extrema direita ao futuro do cinema argentino, recordando a todos que o sucesso de filmes argentinos entre o público e a crítica em todo o mundo não seria possível sem políticas públicas de fomento à cultura e sem a “Ley de Cine”, que garante verbas específicas para a atividade. Na Forbes
MINHA IRMÃ E EU BATE RECORDE PÓS-PANDEMIA
A comédia Minha Irmã e Eu, dirigida por Susana Garcia e protagonizada por Ingrid Guimarães e Tatá Werneck, já foi assistida por mais de dois milhões de espectadores e se consagra como o primeiro filme nacional a alcançar este número desde 2019. O último filme a fazer tamanha bilheteria foi Minha Mãe é Uma Peça 3, também dirigido por Susana Garcia e estrelado por Paulo Gustavo. Minha Irmã e Eu estreou no dia 28 de dezembro de 2023 em 1.024 salas de cinema em todo país e contou também com sessões antecipadas desde 25 de dezembro.
Na trama, Ingrid e Tatá interpretam irmãs que nasceram no interior de Goiás, mas moram em cidades diferentes. Quando a mãe delas desaparece, as duas deixam de lado as diferenças e se unem para procurá-la, numa viagem que pode mudar suas vidas.
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